A representação comercial é considerada uma das profissões mais antigas do mundo e de vital importância para a comercialização de produtos. Foi através do vendedor e mercador que nossos antepassados conheceram hábitos, costumes e a cultura de cada povo.
De acordo com antigos relatos, as pessoas com grande habilidade para vender já nasciam com esse dom, tanto que na divisão da Índia Antiga, os vendedores formavam a mais poderosa sociedade de homens de negócios que existiu no passado. Até hoje, os libaneses, que são os herdeiros étnicos dos fenícios, são tidos em todo mundo como vendedores excepcionais. Os árabes, invasores do Sul de Portugal e parte da Espanha disseminaram na região a prática.
No Brasil antigo, encontramos as figuras do mascate, do tropeiro e do regatão, precursores do representante comercial atual. Estes desbravadores constituíram elementos fundamentais na penetração e ocupação do País. São considerados, até meados do século XIX, como os principais responsáveis pela circulação de bens entre as cidades da costa e do interior. A eles devemos, em grande parte, a unidade nacional.
Precursor do caixeiro-viajante, o mascate percorria o território brasileiro carregando mercadorias País a fora. Foi um agente introdutor do progresso e propagador de civilização.
Os mascates eram solitários, indiferentes às distâncias e ao perigos, dormiam ao relento, comendo do próprio farnel, familiarizados com os caminhos e estradas que habitualmente percorriam.
Outra figura importante, o tropeiro, era considerado o “bandeirante do comércio” e se destaca com a febre do outro e o apogeu da economia mineira, no século XVII.
Considerado o mascate fluvial da Amazônia, o regatão, característico da região até hoje, percorre em seu barco rios e lagos, parando, de lugar em lugar, para comerciar e praticar o escambo.
Importante nas relações sociais
Passados os séculos, a figura do representante comercial ainda continua, cada vez mais, sendo essencial no desenvolvimento do comércio. É aquele profisssional que se dedica, totalmente, a conquistar clientes, sendo indispensável para o sucesso de qualquer empresa de vendas.
Atualmente, este profissional assumiu a característica de verdadeiro comunicador. É ele que dissemina no mercado o perfil, as tendências e o compromisso institucional das empresas. É ele quem traz do mercado informações que a empresa precisa para desenvolver seus produtos e serviços e, naturalmente, melhor satisfazer às necessidades dos seus clientes.
Mascate vendia até condecorações
O mascate foi, ao seu tempo, um divulgador de progresso, de acontecimentos, propiciando disseminação de cultura e de civilização para as pequenas cidades, vilas e vilarejos do interior do Brasil, que visitava nas suas perambulações comerciais.
O baú do mascate era uma verdadeira feira ambulante, levava de tudo que se podia imaginar, no quase limitado campo deste tipo de comércio.
A grande maioria dos novatos na mascateação iniciativa, geralmente sozinho, trazendo eles mesmos às costas os baús. Andando pelas ruas, com o corpo vergado para frente, alertando a freguesia para a sua presença, fazendo uso da vara de medir pano, dobrada ao meio, batendo com uma metade na outra fazendo o seu tec-tec característico.
Ele empreendia jornadas de meses, sem destino pré-determinado, mas com objetivo certo. Muitas vilas do interior brasileiro, e mesmo cidades, algumas até importantes, tiveram suas origens ou seu desenvolvimento ligados aos mascates.
Origem da palavra “mascate”
O vocábulo “mascate” era empregado em Portugal. Conta a história, que os portugueses, auxiliados pelos libaneses cristãos, tomaram a cidade de Mascate, localizada na Arábia, porto situado na costa sul do Golfo de Omã, no ano de 1507, conservando a mesma até o ano de 1658. Os portugueses que seguiam para aquela cidade árabe levaram mercadorias, para ali fazerem a troca ou barganha e, quando voltavam a Portugal, eram chamados de “mascates”.
Caixeiro-viajante: elo vital entre indústria, comércio e consumo
Frederich March, na Broadway e nas telas do mundo, e Jaime Costa, nos palcos brasileiros, deram a vida a um dos mais pungentes personagens do dramaturgo norte-americano, Arthur Miller, em “A morte do Caixeiro-Viajante”. Já a crônica brasileira registra o lado pitoresco desse vendedor sem residência fixa, sendo muitas as páginas de nossa literatura dedicadas às histórias dos viajantes.
Duas diferenças fundamentais distinguem o caixeiro-viajante do mascate: o caixeiro-viajante é um empregado, normalmente recebendo comissões sobre as vendas, um “tirador de pedido”, ou seja, vende aquilo que será entregue depois. O mascate é um comerciante autônomo e vai-se desfazendo do seu estoque, à medida que os seus artigos vão sendo vendidos.
Até um passado bem recente, com os meios de comunicação ainda obsoletos, o caixeiro-viajante foi um elo vital na integração dos mundos da indústria, do comércio e do consumo. Os produtos e artigos, necessários ou supérfluos, chegaram aos mais diferentes e distantes mercados pelo trabalho avançado desse “tirador de pedido”.
A modernidade da Discagem Direta à Distância, do telefax e do computador e de novos canais de vendas, aliadas às facilidades bancárias de cobrança e pagamento, não colocaram fim nesta importante atividade, que se vem adaptando aos novos tempos.
Fontes: O Mascate no Brasil (José Alípio Goulart) – Serviço de Documentação e Informação – CNC; O Comércio no Brasil – Mário de Almeida – CNC (Biblioteca da ACRJ)